Enquanto ocorre a Olimpíada

11 08 2008

Pelo menos nos jornais, nada de novo parece ocorrer. Os escândalos deram pouco o seu ar de graça, o noticiário policial diminuiu de tom e até as pesquisas eleitorais desapareceram. Tudo parado em nome do espírito olímpico?

Infelizmente, o mundo não é assim. O que move o mundo continua a ser a produção e o consumo de bens, a economia. E, neste aspecto, a crise continua a andar, desenrolando-se por baixo dos tapetes bem intencionados de banqueiros e industriais.

Um analista americano, analisando os dados, concluiu acertadamente que a produção industrial americana continuava a crescer, embora em ritmo mais lento que no ano passado. Mas o emprego e os salários diminuíram. Conclusão: a crise está vindo, mas quem está pagando por ela é justamente a classe operária. Sob este aspecto, nem Obama nem MaCain tem proposta ou solução alguma, fingem simplesmente que tal fato não acontece, enquanto se ocupam em xingamentos diversos.

A verdade é que a alta do preço do petróleo e de outros minerais, aliada a baixa do valor do dólar, cobrou o seu preço. A guerra do Iraque começou finalmente a ter algum prejuízo a menos, com o petróleo tendo dobrado de preço e a produção ter finalmente se estabilizado nos valores existentes imediatamente antes da guerra. Este novo fôlego permitiu que o dólar começasse a recuperar-se frente às outras moedas. Mas o fôlego é curto, e tudo o que se viu até agora é que o preço do petróleo diminuiu um pouco, provavelmente porque o pico da especulação já passou, mas os preços de produção – Iraque, poços cada vez em águas mais profundas – não diminuíram e o valor não vai diminuir, não vai voltar aos preços de antes da crise.

No Brasil, a situação caminha para que a crise também seja sentida. Os valores de remessa de lucro para o exterior e de retirada do capital especulativo da bolsa atingiram o seu pico nos últimos seis meses. A Bovespa, como todas as bolsas do mundo, caiu de valor, inclusive empresas que tiveram os seus ativos valorizados, como Petrobras e Vale do Rio Doce (produção de minerais). Apesar da alta de juros, continua aumentando o credito, na esteira da baixa de valor dos produtos industriais, enquanto o preço de moradia, de transporte e principalmente de comida continua a subir. Como se vê, não estamos em um caso clássico de “inflação”, mas de mudança dos valores relativos das diferentes mercadorias. Uma mercadoria, em particular, está perdendo valor: a força de trabalho. Como resultado geral da situação descrita anteriormente, morar, transportar-se, comer, ficou mais caro. E isto atinge pesadamente a classe operária, notadamente os seus segmentos mais pobres.

O resultado já começa a se ver: as greves aumentam. O governo Lula, rescaldado, agüentou algumas greves de servidores, mas conseguiu fazer acordos com a maioria, abrindo caminho para mais desqualificação no serviço público em troca de aumentos escalonados e de acordos nos quais as entidades sindicais se comprometem a defender “melhorias no atendimento ao publico, melhorias no desempenho dos servidores”. Sim, o governo garantiu sua tranqüilidade monetanea. No setor privado, as grandes categorias ainda aguardam as negociações salariais, particularmente os metalúrgicos. E a grande panela de pressão prepara-se para estourar, apesar de todos os furos que patrões e governo tentam colocar impedindo a força da classe cada vez mais oprimida de se manifestar.


Ações

Information

Deixe um comentário